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Claudete M. Soares

28/12/2018

A Sabedoria do Perdão

“Sempre que estamos doentes, necessitamos descobrir a quem precisamos perdoar”

"Sempre que estamos doentes, necessitamos descobrir a quem precisamos perdoar"

Em algumas ocasiões, falamos demais ou de menos, não oferecemos o nosso melhor. As nossas atitudes nem sempre são desejáveis, polidas, sensíveis. Por vezes somos egoístas, não escutamos, não consideramos, enfim, somos humanos e falíveis. Há situações graves, sem dúvida, em que fomos traídos, roubados, injuriados, “atropelados” pelo outro sem um motivo justificável, o que nos provocou uma profunda dor, dor essa que, muitas vezes, estendemos por meses, anos e que poderá influenciar em todo o nosso viver. Mas isso não precisa se perpetuar.

Nós temos essa linda capacidade que é a de perdoar, que é uma das mais nobres do ser humano e que pode ser praticada tantas e quantas vezes forem necessárias. O perdão é tão importante que a Psicóloga americana Louise L. Hay destacou: “Sempre que estamos doentes, necessitamos descobrir a quem precisamos perdoar. Quando estamos empacados num certo ponto, significa que precisamos perdoar mais. Pesar, tristeza, raiva e vingança são sentimentos que vieram em um espaço onde não houve perdão. Perdoar dissolve o ressentimento”.

Quando nos sentimos magoados e feridos, outros sentimentos são despertados, como a tristeza, a decepção e a raiva. Fato é que eles nos desgastam física e emocionalmente e, de um modo ou de outro, afugentam a felicidade. Não há dúvida de que precisamos vivenciar a própria dor, sentí-la, para depois elaborá-la. Perdoar não é justificar o outro e também não significa esquecer o que ele nos causou, mas, ao fazê-lo, nos livramos do peso da mágoa e de todas as energias nocivas a ela ligadas, passando a nos sentir mais leves e em paz.

Muitos esperam eternamente pela iniciativa do outro, o qual, talvez, não tenha o mesmo grau de compreensão que o nosso, que não amadureceu suficientemente ou que, por outras razões, não se sente fortalecido o bastante para fazer isso. Nós podemos tomar a iniciativa, não só por ele ou pela relação em si, mas por nós mesmos. Perdoar é saudável, é nos devolver à vida, é nos libertar do enorme fardo que a situação pode significar. Muitas vezes, o afastamento se deu por uma situação banal e que acabou assumindo contornos maiores. Uma boa conversa pode resolver; um estender de mão, um sorriso, um abraço.

Muito se fala sobre o perdão, aliás, o tema se mostra sempre presente e atuante nas relações humanas. No início e final de cada ano, sua lembrança aflora mais fortemente nas mentes e corações, convidando-nos a repensar, oportunizando libertarmo-nos dos sentimentos de mágoas e ressentimentos em relação ao outro ou relativamente a nós próprios. São períodos em que estamos mais sensíveis e propensos às mudanças. Como referiu Martin Luther King, “o perdão é um catalisador que cria a ambivalência necessária para uma nova partida, para um reinício”.

O perdão implica também um ato de coragem, pois faz com que deixemos de lado o rancor, aceitando o que aconteceu para seguir adiante. Por vezes, perdoar é um processo lento e doloroso, em que cada pessoa vai experimentar e reagir diferentemente, considerando vários aspectos, como personalidade, capacidade de percepção, grau de amadurecimento, história de vida, sensibilidade, tolerância à frustração, dentre outros. Ou seja, quanto mais saudáveis emocionalmente, melhores condições teremos para reagir às adversidades existenciais.

Para Carl Jung, “tudo aquilo que não enfrentamos em vida acaba se tornando o nosso destino”. Por isso, perdoar é libertador, pois, nos indica um novo caminho, livrando-nos das pesadas correntes que podem estar nos roubando a alegria de viver. Precisamos nos perdoar pelo que deixamos de fazer no passado, por aquilo que fizemos e achamos que não deveríamos ter feito ou pelo que falamos ou deixamos de falar. Perdoar a nós e ao outro, familiar, amigo, conhecido, colega de trabalho, parceiro(a) de vida, enfim, considerar que todos nós estamos sujeitos a erros e que, muitas vezes, até contribuímos para que eles aconteçam. Que possamos refletir a respeito e, quem sabe, concedermo-nos a chance de um ano novo realmente novo, mais amoroso e feliz.