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Claudete M. Soares

07/05/2018

A Solidão no Casamento

“A opção pela prática excessiva de atividades diárias (laborativas ou não), como, por exemplo, o uso imoderado do tempo livre para manterem-se conectados às redes sociais, intensifica esse quadro” 

"A opção pela prática excessiva de atividades diárias (laborativas ou não), como, por exemplo, o uso imoderado do tempo livre para manterem-se conectadas às redes sociais, intensifica esse quadro"

Claudete Morsh Soares

Nosso tempo é marcado pelo avanço considerável da tecnologia, especialmente na área da comunicação, o que é indubitavelmente importante, todavia, temos assistido, cada dia mais, o afastamento das pessoas, que estão desviando o olhar e os ouvidos daqueles que estão mais próximos de si, gerando sentimento de isolamento e solidão. A solidão por si só não é negativa. Aliás, ela pode ser bastante construtiva, possibilitando um diálogo interno e despertando a força pessoal motivadora. Em alguns momentos, inclusive, se faz absolutamente necessária (na tomada de decisões, para reorganizar a vida, nos processos criativos e de mudança, para autoconhecimento, etc.). Mas não é sobre essa solidão que me refiro e sim àquela experimentada por conta da ausência afetiva, da falta de companheirismo, da precária ou total falta de investimento no diálogo e, consequentemente, de projetos comuns nos relacionamentos conjugais. As pessoas se queixam de viver em absoluta solidão, embora estejam acompanhadas. A solidão a dois, além dos fatores apontados, é também resultado do individualismo exacerbado, muito presente na vida moderna. As pessoas têm pensado mais em si e se distanciado de seus pares. A opção pela prática excessiva de atividades diárias (laborativas ou não), como, por exemplo, o uso imoderado do tempo livre para manterem-se conectadas às redes sociais, intensifica esse quadro. Nos depararmos com cenas de casais sozinhos ou acompanhados dos filhos, em restaurantes, ou espaços públicos, em que ninguém troca uma única palavra, pois todos estão fazendo uso de seus aparelhos de celular ou tablet antes, durante e após as refeições. Há situações ainda, em que apenas um dos companheiros se mantém alheio ao uso do aparelho enquanto o outro, em total desprezo, sem trocar um único olhar ou fala, navega em águas desconhecidas. Momentos que poderiam ser ricos para o casal acabam gerando enorme desconforto, sentimento de vazio, de que não é desejado, naquele que via esse tempo como uma oportunidade de troca saudável, descontraída, de maior intimidade e aconchego. É contraditório mantermos uma imensidão de contatos (virtuais ou não) se não conseguimos estabelecer conexões emocionais mínimas com quem está ao nosso lado. Como assinalado por Marina Colasanti (in “E por falar de amor”, ed. Rocco), “às vezes, muitas vezes até, entender o amor não nos parece difícil. Afinal, quase todos passamos por ele e sabemos bem onde dói e onde agrada, onde fabrica nuvens e onde abre precipícios. O que nos parece difícil de entender é por que, se todos o queremos, se é o mais sublime dos sentimentos, se é a essência da vida, se existe para juntar homens e mulheres, se é tudo isso, por que é tão complicado de manejar”. A verdadeira partilha de vidas, porém, não pode prescindir de diálogo aberto e claro, de olho no olho, da preocupação com o outro, do respeito pelos seus desejos, de manter atividades e projetos comuns. O sucesso ou o fracasso da relação vai depender grandemente da comunicação que se estabelecer entre os parceiros, de como expressam suas emoções, bem como, da busca de alternativas que abrandem eventuais conflitos relacionais. Se a solidão está gerando sofrimento, por mais difícil que pareça, convém tentar restabelecer a comunicação, expressar com o coração os sentimentos que estão afligindo (muitas vezes o parceiro (a), voltado apenas para os seus interesses, nem percebe a dor do outro), buscando o entendimento e as mudanças necessárias. Caso a união esteja muito desgastada talvez seja o momento de buscar ajuda de um profissional para, juntos, forjarem caminhos que os conduzam a experimentar prazer e satisfação na vida  conjugal.