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Claudete M. Soares

26/09/2018

Filhos Resilientes

“Resiliência” é a capacidade interna da pessoa se refazer psiquicamente após um evento doloroso 

Embora muitos pais resistam à ideia, fato é que os filhos não deveriam ser criados para si e sim para o mundo, para viverem as suas próprias vidas e experiências

“Vossos filhos não são vossos filhos. São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não de vós. E embora vivam convosco, não vos pertencem” (Khalil Gibran). Embora muitos pais resistam à ideia, fato é que os filhos não deveriam ser criados para si e sim para o mundo, para viverem as suas próprias vidas e experiências quando se sentirem prontos para isso. Nessa caminhada, como é comum acontecer, eles passarão por adversidades e, de um modo ou de outro, terão que enfrentá-las. Determinados eventos, porém, podem ser traumáticos para uns a ponto de impossibilitá-los de prosseguirem a sua vida enquanto, para outros (embora o processo também possa ser difícil e doloroso), tais eventos possam ser enfrentados de forma mais tranquila, pois esses conseguem elaborá-los de modo a continuar o percurso existencial com qualidade e até, muitas vezes, saírem de tais problemas mais fortalecidos e transformados. É justamente essa capacidade interna da pessoa se refazer psiquicamente após um evento doloroso que se denomina “resiliência”.

Para os estudiosos a resiliência não diz respeito apenas a características genéticas ou emocionais próprias do indivíduo nem é unicamente fruto do meio. O que existe é uma combinação de fatores que o levam a reagir positivamente frente às intempéries da vida. A capacidade de tolerância à frustração é também considerada fundamental para a resiliência. Pessoas resilientes têm a capacidade de lidar com as frustrações, sem se abater ou mesmo deixar de lutar. É por essa característica que o psiquiatra Boris Cyrulnik, se refere a ela como “a arte de navegar nas correntes”. Mas, afinal, é possível aprender a ser resiliente? Como os pais podem auxiliar os filhos a desenvolver esta habilidade? Como assinalado por Renata Jubram, alguns pais, “na ânsia de demonstrar o seu amor e, ao mesmo tempo, “minimizar as culpas” pelo tempo que estão ausentes ou por estarem separados, por exemplo, costumam atender demasiadamente os desejos de seus filhos, negando-lhes a possibilidade de aprender, o quanto antes, a lidar com as inevitáveis frustrações que a vida proporciona” (in “Autonomia, resiliência e protagonismo”). Para a autora, é sobretudo na infância que é possível desenvolver a tolerância à frustração na medida em que os pais ofereçam alguns obstáculos à realização de todas as vontades dos filhos.

O meio pode encorajar a resiliência, sem dúvida, mas também pode impedi-la de se desenvolver. Os pais devem oferecer proteção, o que reforça os laços afetivos, mas não fazer tudo pelos filhos, especialmente quando eles já têm condições de agir sozinhos. É muito importante que eles tenham uma educação mais positiva, de modo que possam florescer psicologicamente, que sejam ensinados a lidar com os problemas do dia a dia com otimismo e a pensar mais realista e flexivelmente sobre os problemas que surgem. Ao serem estimulados com intervenções de apoio e otimismo, podem aprender a ser mais fortes e aguerridos frente às adversidades. Destaque-se ainda que a forma como a família enfrenta as situações de crise, as perdas, as transições no ciclo de vida e mesmo como se utiliza de estratégias de adaptação e de superação pode auxiliar a capacitar os filhos a desenvolverem a resiliência. Por fim, é preciso que encontremos modos de criação que lhes permitam partir um dia, emocionalmente saudáveis e suficientemente fortes para não desistirem diante da primeira pedra que encontrarem no caminho. Quem sabe, serão capazes de guardá-las todas para um dia construir um castelo.