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Claudete M. Soares

12/05/2019

O Sentido e a Brevidade da Vida

Cada momento na nossa existência é único; ela é breve; por isso, que saibamos usar desse maravilhoso dom para compor os mais lindos versos desta música chamada vida

Sêneca dizia que "enquanto se espera viver, a vida passa"

Sêneca dizia que “enquanto se espera viver, a vida passa”. Na verdade, não costumamos pensar muito sobre a finitude da vida, todavia, basta a notícia do falecimento prematuro de alguém, próximo ou não, para o assunto gerar desconforto, despertar a ideia de que a vítima poderia ter sido qualquer um de nós e nos convidar à reflexão sobre a morte. Geralmente vivemos como se nunca fôssemos morrer e vamos tocando a vida despreocupados com essa temática. Aí entramos em outra seara fértil que é a do sentido que estamos dando a essa experiência a que chamamos vida. Quando insistimos, por exemplo, em um relacionamento abusivo, que nos machuca física e emocionalmente, estamos deixando de nos oportunizar, muitas vezes, um novo encontro de almas, de saberes, de experiências mais prazerosas e que poderão agregar vida à nossa vida. Quando todas as tentativas de salvar um relacionamento do caos em que está mergulhado já foram utilizadas, temos que nos convencer de que precisamos mudar o curso dessa história. O mesmo se diz com relação ao trabalho que nos infelicita, às amizades que não constroem, aos projetos que não estão dando certo e assim por diante. É de se perguntar: não poderia ter sido diferente, desde que tivéssemos decidido a tempo? Como assinala o filósofo Luc Ferry (in Aprender a viver, 2007), “Se nos deixamos prender pouco a pouco na armadilha dos apegos que o amor sempre nos prepara, predispomo-nos aos piores sofrimentos, já que a vida é mudança, impermanência, e que todos os seres são perecíveis. E mais ainda. Não é apenas da felicidade, da serenidade que nos privamos antecipadamente, mas da liberdade.”

Temos o perigoso hábito de, em nos sentindo eternos, adiarmos sonhos, desejos, e mesmo de investir em uma vida mais prazerosa e geradora de sentido. Quando falamos em sentido da vida, não estamos dizendo que ela em si não tem sentido, não é isso. Estamos falando que, não obstante o sentido que lhe é próprio, cumpre a cada um de nós dar vida à sua própria vida, dar um sentido a esse dom que recebeu. Essa busca por um sentido, como dizia Viktor Frankl, é o que nos livrará dessa sensação de vazio que nos acomete quando estamos sem rumo ou quando, tendo tudo o que, em tese, seria necessário para um viver digno, mesmo assim não conseguimos ser felizes. Há sempre uma “falta”, um “vácuo” nos rondando, nos desafiando e convocando para encontrar respostas. O sentido, ou seja, aquilo que poderia nos preencher existencialmente, pode ser buscado e alcançado de diversas formas, cumprindo a cada um descobrir por si o que realmente lhe faz bem e o completa como ser humano. Há aqueles, por exemplo, que encontram sentido maior no trabalho e passam a vida inteira se dedicando a ele e se sentem plenamente satisfeitos com tudo o que realizaram ao longo desta trajetória. Outros, por sua vez, o encontram ao experimentar o amor, passam a tê-lo como foco principal de vida e se sentem felizes e completos com esta escolha. Há ainda os que se dedicam à espiritualidade, à caridade, à arte, etc. Cada um precisa explorar, na verdade, aquilo que faz a vida pulsar, valer a pena ser vivida e produzir as condições para isso, como nos ensina a Psicologia Positiva, quando trata da felicidade, fluidez, sentido, amor, gratidão, realização, crescimento, melhores relacionamentos, que constituem o florescimento humano (in Florescer, Dr. Martin E. P. Seligman, 2011).

Enfim, como na letra da música “Tocando em frente”, de Renato Teixeira e Almir Sater, Cada um de nós compõe a sua história, cada ser em si carrega o dom de ser capaz, de ser feliz”. Precisamos compreender que cada momento na vida é único e que ela é breve; por isso, que saibamos usar desse maravilhoso dom para compor os mais lindos versos desta música chamada vida.