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Claudete M. Soares

31/03/2018

Por Que Corremos Tanto?

“É uma pena não viver”

Fernando Pessoa disse certa feita que "a vida é um espetáculo imperdível"

Recebi outro dia uma mensagem virtual chamando a atenção para a quantidade de dias que estão faltando para a Páscoa, a Copa do Mundo e o próximo Réveillon. “Nossa!”, pensei, “já foi dada a largada da maratona contra o tempo!”. Mal começamos o ano e já disparamos ansiosos atentos ao calendário. Sobre a minha mesa de trabalho, como um lembrete permanente, deixo à vista a biografia de Rubem Alves, brilhantemente escrita por Gonçalo Júnior, com o sugestivo título: “É uma pena não viver”. Meus olhos se voltam para ela frequentemente. São momentos em que desacelero para refletir e questionar: por que corremos tanto? É de fato uma pena não viver. Ir deixando ao largo do caminho pequenas preciosidades e experiências únicas, que poderiam ser muito significativas para nós e para quem amamos.

Fato é que nos sentimos cada vez mais pressionados pela vida moderna que nos incita a consumir, produzir, a nos capacitar continua e interminavelmente, a inovar, a sermos mais competitivos, a mais isso e aquilo, muitas vezes até colocando em risco a nossa saúde física e mental para darmos conta de um universo de exigências. Essa ansiedade toda tem nos levado, muitas vezes, a agir de modo impulsivo e empobrecido. Saímos atropelando a própria vida e, ao final das contas, deixamos de experimentar e de nos aprofundar no que realmente importa e contribui para um viver mais prazeroso e feliz. Ter ansiedade é normal e ela até pode ser benéfica (quando nos alerta de um perigo, por exemplo), mas, em excesso, é danosa e pode desencadear não só sintomas físicos como também levar-nos a desenvolver quadros de transtorno de ansiedade que causam sofrimento e perdas importantes. Pessoas muito ansiosas têm dificuldade de relaxar, apresentam preocupações desproporcionais com a realidade, pensamentos negativos repetitivos, sensações frequentes de aflição e de angústia, sentem dificuldades para dormir, medo, dentre outros sintomas.

No campo dos relacionamentos, por exemplo, a ansiedade pode provocar crises variadas, tristezas, afastamentos, etc. Diante dessa correria toda, convém perguntar: Como está o nosso relacionamento com a família? Com o parceiro/parceira de vida?  Nossos filhos? Com amigos? Colegas de trabalho? Como estamos nós? Como distribuímos o nosso tempo? Temos dado mais ênfase às emoções positivas ou às negativas? Zanon & Hutz (in Avaliação em Psicologia Positiva, Artmed, 2014) ressaltam que “a frequência e a intensidade com que as pessoas vivenciam os afetos positivos (AP) e os afetos negativos (AN) refletem seu nível de felicidade e bem-estar”. É muito importante, portanto, centrar-se no que realmente faz a vida valer a pena. Identificar as situações causadoras de ansiedade para poder preveni-las e mesmo investir em ações para tornar a vida boa, potencializando os aspectos positivos em detrimento dos negativos, pode levar o indivíduo a alcançar a satisfação e o bem-estar tão desejados. Num mundo repleto de dádivas, sem dúvida, conforme o título da biografia acima referida, “é uma pena não viver”. É uma pena não vivê-la em sua plenitude, com erros e acertos, mas com olhos sempre encantados. Fernando Pessoa disse certa feita que “a vida é um espetáculo imperdível”. Portanto, isso é um convite para que desaceleremos e busquemos viver intensamente, sabendo dosar o tempo para que nenhum item essencial reste prejudicado, retirando de nós o que realmente importa: viver.

Claudete Morsh Soares