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Claudete M. Soares

03/07/2018

Tempo e Escolhas

Estamos nos oportunizando tempo para ajustar o leme desta nau chamada relacionamento?

Ouço com frequência a frase "eu nem sei por que ainda estou com ele (a)"

Ouço com frequência a frase “eu nem sei por que ainda estou com ele (a)”. Percebe-se que, com o tempo, muitos ficam em dúvida se acertaram na escolha de seu(sua) parceiro(a) de vida. Uma avalanche de indagações surge lhes tirando a paz, gerando muitas inquietações. A questão é que nem sempre agimos de modo consciente. Há uma grande bagagem de motivações inconscientes que podem influenciar nas nossas escolhas e ações. Não se conhecer e não ter elaborado adequadamente os conflitos internos pode levar a pessoa a cometer erros, se equivocar. Entender as razões que a motivaram a se unir a alguém alertará para alguns enfrentamentos que mais cedo ou mais tarde terão que ser feitos, possibilitando que se sinta mais segura e confiante quanto ao futuro ao seu lado ou não. É possível formar elos dolorosos ou, pelo contrário, “estáveis, gratificantes e significativos, capazes de enriquecer a ambos os parceiros”, segundo Iara C. Anton. A autora ressalta que muitas relações consideradas infelizes não terminam, pois as pessoas envolvidas não se sentem capazes de estabelecer laços mais felizes com outras, preferindo permanecer mal acompanhadas a ficarem sós.

Na verdade, mesmo insatisfeitos muitos não se divorciam pelas mais variadas razões, dentre elas: medo do futuro, dependência, educação conservadora, impacto sobre os filhos, sentimentos de culpa, medo de não conseguir o próprio sustento, estigma do divórcio, receio de não encontrar outro parceiro(a), por interesses financeiros compartilhados, etc. A maioria dessas pessoas se sentem impotentes, confusas, não buscam orientação ou tratamento e seguem perdidas à espera que mudanças expressivas aconteçam voluntariamente e, outras, terminam se conformando com a situação. Mas há também aquelas, muito presentes em nossos dias, que não querem perder tempo, preferem partir logo para uma nova relação ao invés de buscar formas de melhorar a atual. Várias questões contribuem para isso, dentre elas o fato de a lei não exigir motivação para requerer o divórcio e este poder ser pleiteado incontáveis vezes.

Todavia, é preciso compreender que não nascemos prontos, vamos ajustando as velas no percurso existencial enfrentando tempestades, mares revoltos, assim como dias de sol e calmaria. Mesmo que não tenhamos feito a melhor escolha, conviver sempre exigirá constantes ajustes, ou seja, muito diálogo se faz necessário, quer se goste ou não, paciência, tolerância, compreensão com o mundo do outro e suas dificuldades, etc. Precisamos nos dar tempo e conceder tempo ao outro. Acima de tudo, nos conhecer e saber o que realmente buscamos na relação e por quê. Esperamos muito do outro, por vezes tudo, oferecendo pouquíssimo de nós mesmos. Criamos obstáculos até para sermos amados plenamente. Para Viktor E. Frankl, “o amor é a única maneira de captar outro ser humano no íntimo de sua personalidade. Ninguém consegue ter consciência plena da essência última de outro ser humano sem amá-lo”.

Modernamente muitos questionam se é o amor que mudou. Diria que o sentimento chamado amor continua incólume, com todas as suas nobres e doces características. Nós é que mudamos as formas de nos relacionarmos com o outro. O amor permanece cantado em verso e prosa e, ainda é, e quiçá sempre será, o mais belo e puro dos sentimentos. Diante da brevidade da vida, felizes aqueles que o encontram, que amam e são amados. Arrastar uma convivência dolorosa, sem dúvida, não parece a melhor saída, mas a grande pergunta que devemos fazer é se estamos nos oportunizando tempo para ajustar o leme desta nau chamada relacionamento.