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16/12/2020

A Transversalidade da Cultura

No Rio Grande do Sul, a Economia Criativa, segundo a Fundação de Economia e Estatística (FEE) emprega mais do que a indústria calçadista e automobilística, com um impacto de 3,41% do PIB

Nas cidades em que a inovação é um valor social, passa a ser percebida por todos os atores, governo, empresas, consumidores, e isso melhora a qualidade de vida, a renda e o empreendedorismo

Cultura é uma das palavras mais importantes e também uma das mais usadas no vocabulário de uma cidade. Ela é considerada essencial para a identificação de um determinado povo ou sociedade. De forma genérica, identificamos cultura como um conjunto de elementos significativos de uma determinada sociedade: arte, costumes, crenças, entre tantos elementos que dão sentido a um universo específico que compõe um determinado território.


Em um momento em que muito se fala em políticas públicas, objetivos do desenvolvimento sustentável e agenda para o desenvolvimento, é fundamental pensarmos na relação entre a cultura e o desenvolvimento. Reconhecida por suas dimensões simbólica, cidadã e econômica em uma abordagem antropológica, hoje a cultura agrega o que alguns pesquisadores chamam de quarta dimensão: a transversalidade.


As artes, enquanto setor produtivo, representam um eixo da Economia Criativa. Segundo levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), em 2017, a indústria criativa gerou R$ 171,5 bilhões (mais de 2,6% do PIB) e uma força de trabalho com mais de 837 mil trabalhadores formalizados. No Rio Grande do Sul, a Economia Criativa, segundo a Fundação de Economia e Estatística (FEE) emprega mais do que a indústria calçadista e automobilística, com um impacto de 3,41% do PIB. Por agregar principalmente empresas prestadoras de serviços, a ativação da cadeia produtiva da cultura, a produção e o consumo cultural impactam diretamente na arrecadação de ISSQN para o município.


O acesso à cultura é um direito constitucional previsto no artigo 5 da Constituição Federal e também previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Tornar a cultura acessível a uma determinada sociedade é um exercício de cidadania e uma obrigação das instâncias governamentais. Mas como a cultura contribui com o desenvolvimento de um território? É na transversalidade que está a potência da cultura para o desenvolvimento.


A agenda 2030 das Nações Unidas traz os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), e a cultura está no coração desta agenda. Se os ODS têm como pilares o desenvolvimento econômico, social e ambiental, então a cultura e a criatividade contribuem transversalmente para este alcance. 

 

A política cultural pode ser estratégica quando atua transversalmente com outras políticas públicas, em especial àquelas de promoção de cidades seguras e sustentáveis, trabalho decente e crescimento econômico, redução das desigualdades, meio ambiente, promoção da igualdade de gênero e sociedades pacíficas e inclusivas. Ela pode atuar tanto na prevenção quanto na recuperação, como por exemplo, na pacificação de territórios. Saúde e bem-estar também estão entre os ODS: assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades. O acesso e o consumo cultural são reconhecidos pela promoção da qualidade de vida das pessoas, mas durante a pandemia serviram à saúde mental para a população.

 

O Itaú Cultural e o Instituto de Pesquisas Datafolha divulgaram em outubro de 2020 uma pesquisa sobre os hábitos culturais na web durante a pandemia. O resultado da pesquisa mostra que "os brasileiros que realizaram atividades culturais durante a pandemia avaliam positivamente os impactos da prática para a saúde mental e a convivência social. De acordo com a pesquisa, 54% declararam que as atividades culturais na web ajudaram a diminuir a sensação de solidão e 45% apontaram redução do estresse e da ansiedade. Para 44%, o consumo de cultura virtual na pandemia contribuiu para melhorar a qualidade de vida de forma geral". Compreender os hábitos de consumo cultural é necessário, mas esses dados corroboram com aquilo que tanto defendemos: o papel, o impacto e a importância da cultura na vida das pessoas.

 

Outro conceito que ouvimos constantemente é o de cidades sustentáveis, e a transversalidade atua à medida que promove ações de melhorias na qualidade de vida de seus moradores por meio da garantia de opções de cultura e de lazer. Para Bautzer (2010), “uma cidade inovadora é aquela que consegue agregar uma agenda de inovação, transformando o espaço urbano em uma rede inteligente de decisões”. A autora diz também que isso só será possível a partir da mudança do elemento humano e, para tornar um município inovador, é necessária uma profunda modificação de cultura e do comportamento da população, ou seja, a integração da diversidade.

 

A ideia da diversidade está ligada aos conceitos de pluralidade, multiplicidade, diferentes ângulos de visão, heterogeneidade e variedade. Muitas vezes, pode ser encontrada na comunhão de contrários, na intersecção de diferenças. No campo da antropologia cultural, a diversidade de hábitos, costumes, comportamentos crenças e valores e a aceitação da diferença do outro também é chamada de alteridade. 

 

Nas cidades em que a inovação é um valor social, passa a ser percebida por todos os atores, governo, empresas, consumidores, e isso melhora a qualidade de vida, a renda e o empreendedorismo. Assim, cidades inteligentes e sustentáveis, pautadas pelos interesses do cidadão, promovem a preservação e valorização do seu patrimônio cultural e o investimento em políticas públicas de cultura.

 

*A Diretoria de Cultura e Educação da CIC Caxias é composta por Caliandra Paniz Troian, Claúdia Sassi, Gilda Eluiza de Ross, Maria Gorete Gedoz, Robledo Luza, Rosane Bender Demari, Shirlei Omizzolo, Silvana Boone