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01/11/2019

Deus e o Empresário, Uma Vocação

“Quando, no exercício da atividade empresarial, amarem a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmos, estarão trilhando o caminho da santificação”  

"Deus chama algumas pessoas para exercerem a atividade de empresários e empresárias e lhes confia os bens e os talentos do empreendedorismo" (Foto: Jonas Rosa)

Empresário é aquele que, na atividade econômica é proprietário de bens de capital, de produção, comercialização e serviços; e emprega pessoas para trabalharem com seus bens, os empregados. A existência das funções de empresários e empregados fazem parte da vontade divina, conforme nos revelam várias passagens bíblicas. Começamos pelos patriarcas Abraão, Isaac e Jacó.

 “O Senhor cumulou Abraão de bênçãos e tornou-o muito rico: deu-lhe ovelhas e bois, prata e ouro, servos, servas, camelos e jumentos” (Gênesis 24, 35) 

“Isaac semeou naquela terra e, naquele ano, colheu o cêntuplo, porque o Senhor o abençoava. O homem enriqueceu, e sua riqueza continuou a crescer, tornando-se extremamente rico” (Gênesis 26, 12-13) “Os servos de Isaac cavaram no vale e encontraram um grande veio d’água” (Gênesis 26, 19)

“Jacó tornou-se extremamente rico e chegou a possuir enormes rebanhos de ovelhas e cabras, servos e servas, camelos e jumentos” (Gênesis 30, 43)

Abraão, seu filho Isaac e seu neto Jacó, eram empresários pecuaristas e fazendeiros, pois possuíam bens de capital e de produção, como ouro e rebanhos. E também possuíam empregados, os servos e as servas. Logo, quem ama o Deus de Abraão, Isaac e Jacó, ama o Deus de três empresários, que Ele próprio escolheu para serem os patriarcas do Seu povo.

Jesus Cristo explicava o Reino de Deus em parábolas e também usava situações socioeconômicas de relação entre empresário (senhor) e empregado (servo). Ex: Parábola do joio e do trigo (Mateus 13,24-30); parábola dos trabalhadores enviados à vinha (Mateus 20, 1-16); história dos vinhateiros homicidas (Mateus 21, 33-44), (Marcos 12, 1-12), (Lucas 20, 9-19); relato do mordomo (Mateus 24, 45-51); parábola dos talentos (Mateus 25, 14-30; Lucas 19, 11-27); narrativa da figueira infértil (Lucas 13, 6-9); história do filho pródigo (Lucas 15,11); parábola do administrador infiel (Lucas 16,1-8) e da fé (Lucas 17, 5-10). Nestas parábolas, a relação entre os personagens também é de empresário e empregado, em que Jesus equipara a Si próprio e também a Deus Pai como se fossem empresários lidando com seus empregados. São Paulo Apóstolo também dá orientações para conduta correta, no sentido cristão, aos empregados e empresários.

“Servos (empregados), obedecei em tudo aos senhores desta vida (empresários), não quando vigiados, para agradar a homens, mas em simplicidade de coração, no temor do Senhor. Em tudo o que fizerdes ponde a vossa alma, como estivésseis fazendo para o Senhor e não para os homens, sabendo que o Senhor vos recompensará como a seus herdeiros: é Cristo o Senhor a quem servis” (Colossenses 3, 22-24)

“Senhores desta vida (empresários), tratai vossos servos (empregados) com justiça e equidade, sabendo que também vós tendes um Senhor no céu” (Colossenses 4,1)

Assim vemos que a relação empresário e empregado faz parte da vontade divina pois não há desaprovação bíblica e sim, há escolha e bençãos de Deus, uso em parábolas e orientações apostólicas. A desaprovação cristã é válida quando houver desrespeito à dignidade humana nesta relação.

VOCAÇÃO

Vocação é um chamado de Deus a cada pessoa, para multiplicar os talentos que o próprio Deus confia, conforme a capacidade de cada um. (Mateus 25, 13-30; Lucas 19, 11-27) O Episcopado no Documento de Aparecida, número 6, nos diz que “Jesus Cristo revela o amor misericordioso do Pai e a vocação, a dignidade e o destino da pessoa humana”. Também, no número 285, diz que “quando o impulso do Espírito Santo impregna e motiva todas as áreas da existência, então também penetra e configura a vocação específica de cada pessoa. Assim se forma e desenvolve a espiritualidade própria de presbíteros, de religiosos e religiosas, de pais de família, de empresários, de catequistas etc. Cada uma das vocações tem um modo concreto e diferente de viver a espiritualidade, que dá profundidade e entusiasmo para o exercício concreto de suas tarefas”.

VOCAÇÃO DO EMPRESÁRIO: UMA NOBRE TAREFA

O Papa Francisco diz que “a vocação de um empresário é uma nobre tarefa, desde que se deixe interpelar por um sentido mais amplo da vida; isto permite-lhe servir verdadeiramente o bem comum com o seu esforço por multiplicar e tornar os bens deste mundo mais acessíveis a todos” (Evangelii Gaudium, 203). No Compêndio da Doutrina Social da Igreja, número 326, o magistério nos ensina que “à luz da Revelação, a atividade econômica deve ser considerada e desenvolvida como resposta à vocação que Deus reserva a cada homem. A atividade econômica e o progresso material devem ser colocados a serviço do homem e da sociedade. Se nos dedicarmos com a fé, a esperança e a caridade dos discípulos de Cristo, a própria economia e o progresso podem ser transformados em atividades de santificação”. O Catecismo da Igreja Católica, no número 2432, nos ensina que “os responsáveis pelas empresas têm perante a sociedade a responsabilidade econômica e ecológica pelas suas operações. Tem o dever de considerar o bem das pessoas e não apenas o aumento dos lucros. Entretanto, estes são necessários, pois permitem realizar os investimentos que garantem o futuro das empresas, garantindo o emprego”.

A VOCAÇÃO DO LIDER EMPRESARIAL, UMA REFLEXÃO

Lançado em 2011 pelo então Conselho Pontifício de Justiça e Paz, e relançado, em 2018 na sua quinta edição pelo atual Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral da Santa Sé, o livro “A Vocação do Líder Empresarial, Uma Reflexão” é uma corroboração e orientação da Igreja sobre a atividade empresarial e sua importância e responsabilidade para o bem comum. Conforme o Cardeal Peter Turkson, prefeito do Discastério, este documento é uma espécie de vade-mécum para homens e mulheres de negócios e para ser utilizado por professores nos momentos de formação e para a instrução nas escolas e universidades. 

ASSOCIAÇÕES DE VOCACIONADOS CRISTÃOS

O Compêndio da Doutrina Social da Igreja, número 550, revela que “as associações de categoria, que unem os associados em nome da vocação e da missão cristã no interior de um determinado ambiente profissional ou cultural, podem desempenhar um precioso trabalho de amadurecimento cristão. Assim se pode dizer de associações de docentes cristãos, de médicos, de juristas, de empresários, … é em tal contexto que a Doutrina Social Cristã revela a sua eficácia formativa diante da consciência de cada pessoa e da cultura de um país”.

As Associações de Dirigentes Cristãos de Empresas no Brasil (ADCE) e no mundo, filiadas à União Internacional de Empresários Cristãos (UNIAPAC) possuem este objetivo de evangelização e amadurecimento da fé, levando o Ensino Social Cristão para o mundo empresarial, formando líderes éticos conforme os valores de Jesus Cristo, e orientado para atividades de santificação (Compêndio, 326). Assim interpreta-se que Deus chama algumas pessoas para exercerem a atividade de empresários e empresárias e lhes confia os bens e os talentos do empreendedorismo. E quando, no exercício da atividade empresarial, elas amarem a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmos, estarão trilhando o caminho da santificação.

Jaime Lorandi | Empresário e Vice-presidente da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas do RS