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Convidados

31/10/2019

Mercado do Vinho

O Nordeste quer provar os rótulos do Sul  

Na contramão da qualidade da produção, está a disponibilidade da oferta: não é fácil encontrar uma boa garrafa de vinho brasileiro aqui no Nordeste

O Nordeste está ávido por vinho brasileiro. Se pensarmos apenas na população local, vemos crescer o consumo e o interesse em conhecer sobre a cultura do vinho, como testemunham os mais de 80 sommeliers formados aqui em Fortaleza, no meu curso, nos últimos anos. Além desse público, a região brasileira mais próxima da Europa e da América do Norte, atrai gente do mundo todo para suas praias paradisíacas, como Jericoacoara, Trancoso, Porto de Galinhas e Maragogi. Esses turistas estrangeiros que enchem nossos hotéis têm o hábito do consumo de vinho. E, de muito bom grado, provariam uma garrafa de vinho brasileiro, caso encontrassem.

É fato: o Brasil produz vinho de qualidade. Os espumantes já são unanimidade, os vinhos tranquilos, ainda não, mas avançam a passos largos para um consenso merecido, embora tardio. Na contramão da qualidade da produção, está a disponibilidade da oferta: não é fácil encontrar uma boa garrafa de vinho brasileiro aqui no Nordeste, em especial, em Fortaleza, terra que me acolheu e me adotou quando saí da Itália, há mais de vinte cinco anos.

Não entendam mal. Importantes vinícolas do cenário nacional estão muito bem representadas por aqui. Os premiados rótulos da Casa Valduga, os vinhos da Miolo, Aurora, Salton e, mais recentemente, Luiz Argenta, são bem distribuídos e facilmente encontrados na Capital e no interior. Ótimo, mas, onde estão os outros? Lamentamos ausência de pequenos produtores do Vale dos Vinhedos, dos Altos Montes, do Vale Trentino, em Farroupilha ou, ainda, de outras regiões do Rio Grande do Sul e de outros estados produtores.

O Brasil é o terceiro maior produtor de vinho da América do Sul: é triste que os próprios produtores não olhem com prioridade para o mercado do Nordeste. As associações de produtores, como Aprovale, Ibravin, Uvibra, poderiam investir em iniciativas de promoção de pequenos produtores associados que, sozinhos, não têm estrutura de marketing para atingir um mercado tão distante do território de produção. Esse caminho já foi testado com sucesso na Itália, onde as entidades denominadas “consórcios” têm promovido pelo mundo afora o vinho de pequenos produtores em feiras, eventos e degustações. O resultado é visível: a Itália é o maior exportador de vinho, em volume de garrafas, do mundo.

Fica, então, a minha sugestão aos produtores do Sul do Brasil, sobretudo os pequenos: façam-se presentes por aqui, e não apenas nas grandes capitais do congestionado Sudeste. O Nordeste é um mercado de grande potencial para o vinho, quer incluir os brasileiros na sua lista de consumo e quer provar o que você produz: sirva!

Marco Ferrari - Sommelier profissional FISAR, Especialista em Enografia Italiana