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Convidados

17/09/2020

Uma Provocação Necessária

Quais São As Perspectivas Econômicas de Caxiasdo Sul?

"Com efeito, a matriz econômica nacional continua orbitando em torno de um incômodo centro de poder que quer manter o Brasil o que sempre foi, apenas um exportador de riquezas naturais e alimentos"

Com a economia brasileira ainda em lenta recuperação na pandemia que atravessa 2020, as expectativas se colocam sobre o que 2021 poderá proporcionar para as empresas e, sobretudo, para a recuperação da renda das famílias caxienses e geração de novos postos de trabalho. Caxias do Sul ocupa posição estratégica como maior cidade da região, ainda mais diante da construção do Novo Aeroporto da Serra Gaúcha, oportunizada pela União, por meio de 196 milhões de reais garantidos ao município em dezembro de 2019 (recursos provenientes do Fundo Nacional da Aviação Civil - FNAC). A obra representa um marco logístico para a integração econômica da região, além do fomento ao turismo no segundo destino mais atrativo do país após o Rio de Janeiro, que é a Serra Gaúcha.

No entanto, após a pandemia a recuperação econômica de diversos pólos industriais como Caxias do Sul e a Serra Gaúcha em si dependerá de outras medidas pontuais do Governo Federal para o desenvolvimento econômico. O maior objetivo deve ser proporcionar um ambiente para industrialização de produtos de alto valor agregado e geração de postos de trabalho no setor tecnológico e reduzir a dependência destes produtos no mercado externo. Caxias do Sul não pode perder o bonde da História e precisa se tornar atrativa para startups, robótica e indústria 4.0, visando atrair investimentos de empresas que geram valor na Nova Economia.

Com efeito, a matriz econômica nacional continua orbitando em torno de um incômodo centro de poder que quer fazer do país o que ele sempre foi, apenas um exportador de riquezas naturais e alimentos. Isso não é nada diferente da política econômica que vem sendo empreendida, há mais de 400 anos, por oligarquias agrárias pouco interessadas no desenvolvimento do país. É dito que o “Agro é Pop”, e certamente hoje é um setor importante para o equilíbrio da balança comercial do Brasil, mas o estímulo a esse setor, com um dólar alto que interessa apenas a exportadores de commoditiesde produtos in natura com pouco, ou nenhum valor agregado, não pode ser feito às expensas da desindustrialização do país e, em especial, de nossa região que tem em sua vocação o setor metalmecânico e tem sofrido na última década com a perda de participação da indústria no Produto Interno bruto (PIB) nacional, além da alta carga tributária de impostos por sucessivos governos estaduais que reduziram a sua competitividade.

Assim, em uma economia globalizada, na qual a circulação de mercadorias e da tecnologia negociada em dólar acarreta a perda de poder aquisitivo das famílias (que têm de pagar mais caro por produtos com alto valor agregado) e afugenta investimentos e as perspectivas de novos empregos, o Brasil sai atrasado na corrida da revolução tecnológica que vem acontecendo em larga escala nos países industrializados, e em relação a seus próprios competidores na manufatura de matérias-primas como a China e a Índia, o que prejudica regiões com vocação notadamente industrial como Caxias do Sul e o seu entorno.

Desta forma, a provocação é necessária, os investimentos em infraestrutura são responsabilidade dos governos, e é importante o posicionamento crítico dos stakeholders de todo esse processo, que somos nós, a população. Nós temos de lidar diariamente com os efeitos econômicos da pandemia e exigir, sobretudo, posições concretas para o desenvolvimento econômico daqueles que são os decision makers. Esses devem tomar corajosamente as decisões, ainda que possam por vezes desagradar aos centros de poder que orbitam os governos, e não podem furtar-se do encargo fundamental de desenvolver a nossa região e o país.

 

Emílio Andreazza - Advogado especialista em Direito Empresarial