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Gianfranco Sinico

05/04/2017

IL Faro Di Santa Marta

“Eis o meu segredo – disse a raposa ao Pequeno Príncipe – É muito simples: não se vê bem, a não ser que seja com o coração. O essencial é invisível aos olhos”

"Terá uns 100 metros de altura. Pelo menos 90, certamente tem!"

Gomercindo faleceu há alguns anos, ultracentenário. Era filho do Imigrante Domenico Lionzo, natural da Itália, nascido em 1866 em Trissino (província de Vicenza). Chegou, aos 18 anos, em São Sebastião do Caí, no dia de Natal, em 1884, tornando-se, depois capitão da Guarda Nacional. Gomercindo puxou ao pai a educação, a cultura e a língua vêneta, que praticava, em família, com muita propriedade. É passada exatamente uma década desde o nosso último encontro, ocorrido em uma janta “italiana”, na casa da sua filha Ivone, em Caxias. O mate passava de mão sublinhando a comunhão, a conversa, o clima de amizade. Meu anfitrião brasileiro me portaria, no dia seguinte, a Laguna (SC), a cidade ao mar, onde nasceu Anita Garibaldi, que depois se tornaria a heroina dos dois mundos. “Visto que vais a Santa Catarina – dizia Gomercindo – não esqueça de ir ao Farol de Santa Marta!”. Ele fora quando criança, com o capitão Domingos. Ficara quase intimidado pela imponente estrutura que ergue-se sobre uma colina, fazendo as vezes de sentinela do mar. Naquele dia, há muito já passado, brilhava o sol e, na luz que envolvia a tudo, o emocionado rapazinho sentou-se sobre a grama para contemplar, com o coração saltando pela boca, a grandiosidade. “Era alto, no mínimo, uns 90 metros”, me assegurava Gomercindo. Seu genro José, o corrigiu, assegurando que, certamente, não superava 40 metros. Mas o velho, seguro de sua tese, reafirmava os quase 100 metros. A discussão foi prosaicamente interrompida pela neta Ivana que, do escritório, declarou em alta voz: “O Farol de Santa Marta (1891), tem 29 metros! Wikipedia!”. Gomercindo me fitou com olhos marejados, surpreso, quase mortificado. Notei naquele momento que seus traços lembravam típicas fisionomias da região dell’Agno, onde seu pai havia nascido. Ali, alguns homens parecem ter sido esculpidos a machado, com fisionomias duras e angulosas mas, no interior, generosos e doces. Disse subitamente: “Me parecia mais alto!”. Se deu conta, também ele, que, por uma evidente desilusão, aquela informação pescada na internet não deixava margem para discussão. Como poderiam as vagas recordações de um velho, quase centenário, confrontarem a pragmática resposta, prontamente fornecida pela web? Uma batalha sem chances: a memória, por mais vívida que seja, teve que se inclinar diante da notícia. Uma humilde relampiada contra um satélite programado. Gomercindo não havia utilizado o metro para medir o farol: a aparição daquela torre entrara por seus olhos e encontrara o coração. Por muitos anos, ele havia cultivado a ideia daquela altura ideal, quase 100 metros. Gomercindo havia guardado com o coração, não com os olhos. Para registro, depois fui a Laguna, aos monumentos de Garibaldi e da sua Heroína. Fui também ver o tal “farol” de Santa Marta. Sentei sobre a grama para contemplar a vista da antiga obra. Era um luminoso dia de sol. Do oceano brotavam ondas enormes, para a alegria dos surfistas: um espetáculo, uma atmosfera de encanto. Sim, se você um dia tiver a oportunidade de viajar ao litoral de Santa Catarina, não perca a oportunidade de admirar o Farol de Santa Marta. É o mais alto das Américas. Levanta-se de uma pequena colina, que surge sobre o oceano e è realmente imponente. Terá uns 100 metros de altura. Pelo menos 90, certamente tem!

Abaixo Versão em Italiano:

Gomercindo è deceduto da un paio d’anni, ultracentenario. Era figlio dell’emigrante Domenico Lionzo, originario dall’Italia, nato nel 1866 a Trissino (in provincia di Vicenza), giunto diciottenne a São Sebastião do Caí il giorno di Natale del 1884, diventato poi capitano della Guardia Nazionale. Gomercindo aveva appreso dal padre l’educazione, la cultura e la lingua veneta, che praticava in famiglia con molta proprietà. E’ trascorsa esattamente una decina d’anni dal nostro ultimo incontro, occorso per una cena “taliana” a casa di sua figlia Ivone, in quel di Caxias. Il mate di chimarrão passava di mano in mano, sottolineando con il rito della condivisione la conversazione e il clima di amicizia. Il mio soggiorno brasiliano mi avrebbe portato il giorno dopo a Laguna, la città di mare dove Anita nacque e si imbatté nell’Eroe dei due mondi. “Visto che vai in  Santa Catarina – mi diceva Gomercindo – non mancare di andare a goderti il faro di Santa Marta!”. Lui c’era andato da bambino, accompagnato dal capitano Domingos. Era rimasto quasi intimidito dall’imponente struttura innalzata su una verde collinetta a fare da sentinella al mare. In quel lontano giorno brillava un sole stupendo e, nella luce che avvolgeva ogni cosa, l’emozionato ragazzino si era seduto su un masso in mezzo all’erba per contemplare con il cuore in gola quella grandiosità. “Sarà stato alto almeno 90 metri”, mi assicurava Gomercindo. Suo genero José, lo richiamò, asserendo che di certo non superava i 40 metri. Ma il vecchio era sicuro della sua tesi, e rilanciava i quasi 100 metri. La discussione fu prosaicamente interrotta dalla nipotina Ivana che, dallo studiolo, declamò ad alta voce: “O farol de Santa Marta (1891), é alto 29 metros. Wikipedia!”. Gomercindo mi spalancò i suoi occhi acquosi, sorpresi, quasi mortificato. Notai allora che i suoi tratti richiamavano le tipiche fisionomie della mia vallata dell’Agno, dove era nato suo padre, dove alcuni maschi sembrano scolpiti con l’accetta, dai tratti fisici spigolosi ma nel profondo generosi e teneri. Disse sommessamente: “Mi sembrava più alto!”. Si rese conto anche lui, pur con una evidente delusione, che quell’informazione pescata in internet non lasciava spazio a diatribe. Come possono i vaghi ricordi di un vecchio reggere il confronto con la risposta prontamente fornita dalla rete? E’ una battaglia senza scampo: la memoria, pur avvincente, si deve inchinare alla stringata ma inconfutabile notizia decretata dal web, un umile battito d’ali contro un satellite programmato. Gomercindo non aveva utilizzato il metro per misurare il faro: l’apparizione di quella torre vagheggiata era entrata attraverso i suoi occhi e aveva raggiunto il cuore, dove si era annidata e dove per molti anni lui aveva cullato un ideale alto quasi 100 metri. Gomercindo aveva guardato con il cuore, non con gli occhi. Per la cronaca, sono poi andato a Laguna, sulle orme di Garibaldi e della sua eroina. E sono andato anche a vedere il “farol” di Santa Marta. Mi sono seduto su un masso in mezzo all’erba per godermi la vista di quell’antica opera. Era una giornata di sole e c’era tanta luce intorno. Dall’oceano si riversavano a riva onde enormi per la gioia dei surfisti: uno spettacolo ed una atmosfera da incanto. Sì, se vi capita di viaggiare nel litorale di Santa Catarina, non perdete l’occasione di andare ad ammirare il faro di Santa Marta. E’ il più alto delle Americhe. Si alza da una collinetta in riva all’oceano ed è veramente imponente. Sarà alto un centinaio di metri. Almeno novanta.