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Lu Fagherazzi

13/03/2019

Manterrupting

Um bom exercício é ser humilde, e ter a consciência de que nem sempre a razão está toda com você

Pessoas que têm um raciocínio rápido, têm a tendência de não ter paciência com raciocínios que não fluam no mesmo ritmo, por isso, também têm tendência a interromper

Recentemente uma atriz criou uma certa polêmica no programa da Fátima Bernardes, ao dar uma “lição” num participante da plateia. O fato foi amplamente discutido nas redes sociais. Acusou-o de estar fazendo manterrupting. Interessante como aparecem expressões novas para velhos problemas. Para o caso de o leitor não estar familiarizado com o termo, explico que o mesmo se refere à interrupção desnecessária, feita por um homem, quando uma mulher está falando. Ora, interrupção desnecessária, independentemente de quem estiver falando, é falta de educação.

Há pessoas que não conseguem participar de uma interlocução sem interromper o outro, ou tentar antecipar a finalização da frase, como que querendo dizer que já entendeu, ou interromper contestando, sem deixar que o outro termine seu raciocínio. É deselegante e muito chato. Por questões culturais, é mais frequente que se presencie situações em que homens interrompam mulheres, quando estas estão falando. Não é incomum que, em reuniões de trabalho, homens interrompam, sem dó nem piedade, a fala da colega. Isso provavelmente é resquício do tempo em que o homem era preparado para liderar e a mulher para obedecer. Os tempos mudaram, e muito. Portanto é preciso ajustar a conduta também. Pergunta-se então, como contornar a situação, quando, sendo mulher, formos interrompidas? Sugiro olhar para o seu interlocutor e com firmeza, mas sem grosseria, dizer-lhe: - Eu não terminei de expor a minha ideia, ou - Eu estou falando. Não deixe passar a oportunidade de corrigir o comportamento, assim, aos poucos, a realidade poderá ser mudada.

Penso que o ato da interrupção pode derivar de inúmeras causas diferentes, como a crença de que a mulher entende menos do assunto do que o homen, a ansiedade de querer expor sua ideia, acreditar que o que está sendo falado não é importante. Sejam essas ou outras motivações, normalmente a interrupção não se justifica, e é preciso combatê-la. Porém, há alguns casos em que interromper se justifica. Por exemplo, se você está coordenando uma reunião e percebe que o participante está levando o assunto para um caminho não desejado, é sim seu dever interromper, com respeito, e sugerir que se mantenha o foco no assunto da reunião, indicando que o assunto trazido à mesa poderá ser tratado em outro momento. Ou ainda, quando o participante se tornar por demais prolixo, é importante, para o bem coletivo, que o coordenador da reunião, interrompa gentilmente, dando oportunidade de outros participarem da discussão.

Pessoas que têm um raciocínio rápido, têm a tendência de não ter paciência com raciocínios que não fluam no mesmo ritmo, por isso, também têm tendência a interromper. Se este for o seu caso, um bom exercício é ser humilde, e ter a consciência de que nem sempre a razão está toda com você.