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Mauro Chies

08/05/2018

"Piano piano si va lontano"

Como escalar o Everest?Tudo o que eu aprendi e vivi desde então contribuirá de alguma maneira para o sucesso dessa empreitada

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Quando me perguntam quando eu comecei a me preparar para escalar essa montanha (o que deve ocorrer em abril de 2019) eu respondo: "desde que aprendi a andar". Tudo o que vivi desde então contribuirá de alguma maneira para o sucesso dessa empreitada. Escalar a maior montanha do mundo (8.848m) não é uma tarefa simples. No montanhismo de grandes altitudes, qualidades e competências aparentemente comuns à todas as pessoas podem fazer toda a diferença entre "chegar lá” ou não, e, às vezes, podem também fazer a diferença entre voltar inteiro para casa ou não.  A maior parte dos montanhistas que encaram expedições longas como a do Everest não são jovens atletas como seria de se esperar. Normalente são pessoas mais maduras, acima dos trinta e poucos anos de vida. A partir desta faixa etária a maior parte já têm uma carreira, família, responsabilidades e principalmente paciência e resiliência, características fundamentais para suportar os longos períodos longe das comodidades urbanas, distante de familiares e amigos.

O maior desafio para o montanhista é suportar os longos dias de espera, necessários para uma boa aclimatação à altitude. Os dias de mau tempo, sem fazer nada, confinado dentro da barraca, são dias de convívio íntimo com parceiros de escalada que muitas vezes nem falam a mesma língua. O grande desafio é mental e não físico. Aguentar-se é muito desgastante e, para alguns, insuportável. Obviamente não se espera que uma pessoa em más condições de saúde seja capaz de enfrentar uma montanha. Um certo nível de preparo físico é fundamental, porém inúmeras pessoas com deficiências físicas significativas já escalaram e continuarão escalando montanhas com sucesso. Amputados, deficientes auditivos, visuais e portadores de doenças crônicas comuns (ou raras) participam de muitas expedições. A montanha serve de cenário ideal à superação destas limitações. É a mola mestra que impulsiona essas pessoas para cima. Que as motiva a encontrar a imensa força de vontade que as faz “chegar lá”. 

No que diz respeito à preparação física em si, há muitas teorias, métodos e protocolos de treinamento disponíveis, facilmente encontrados em uma simples busca na internet. Qual deles é o melhor? Essa é uma pergunta que não tem e nunca terá uma resposta. Em geral o desafio físico na montanha é enorme pois a altitude influencia negativamente diversas funções do nosso corpo além da óbvia dificuldade respiratória e cardíaca. Dores de cabeça intensas, falta de apetite, insônia, problemas gastrintestinais, visuais e até dentários podem arruinar a escalada a qualquer momento. Depois de alguns dias exposto às altitudes extremas nosso corpo entra em estado de catabolismo, ou seja, consome a si mesmo para sobreviver.

A fim de minimizar estes fatores, diminuindo o impacto da altitude e da exigência física que a montanha impõe, uma boa condição cárdio-respiratória e músculo-esquelética é fundamental. Exercícios físicos comuns, praticados com frequência e sob orientação profissional, aliados a uma alimentação saudável e equilibrada são suficientes para preparar o corpo para os desafios da montanha. Correr, pedalar, nadar, treinar com pesos são alguns exemplos e a melhor estratégia é praticar pelo menos três tipos diferentes de atividade intercaladamente, pelo menos cinco dias por semana, não esquecendo do repouso que o corpo necessita para assimilar os treinamentos.

Você não precisa ser capaz de correr uma maratona, tampouco ser um triatleta ou um "Schwarzenegger". Uma rotina de atividades variada e de preferência agradáveis para você é o suficiente. O foco deve ser a resistência e não a intensidade pois na montanha tudo acontece muito lentamente, mas longamente. Longas caminhadas em subidas íngremes, carregando uma mochila pesada, são muito eficientes como treinamento para essas expedições, além de arejar a cabeça por meio do contato com a natureza. Muitos montanhistas caem na armadilha do “overtraining" (excesso de treinamento) e acabam com lesões difíceis de recuperar, comprometendo seu desempenho, atrasando a preparação e às vezes inviabilizando a escalada. Preparar-se para escalar uma grande montanha só traz benefícios para o corpo e para a mente mas requer disciplina e paciência. Exageros na busca dos resultados são a garantia do fracasso na montanha pois ela tem seu próprio tempo e suas próprias regras. Resumindo tudo isso em uma única frase muito repetida por nossos avós: Piano piano si va lontano (devagar se vai ao longe). Saiba mais sobre o meu projeto de escalar o Monte Everest em 2019, contribua, apoie e compartilhe acessando: everest.maurochies.com.br/ ou facebook.com/montanhista.mauro.chies/.

Mauro Chies, Médico Oftalmologista