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Paulo Bertussi

12/10/2017

Juízo Estético

A máxima minimalista do  “menos é mais” passou a ser contestada  pelo  “mais não é menos” e não ter regras também passou a ser uma regra. Todas as questões passaram a ser respondidas por um “por que não”?  Desde então Aristóteles, Platão, Sócrates, Kant, Hegel & Cia, não pararam de se remexer no caixão! 

Platão Friedrich Hegel François Lyotard

Não vamos tratar aqui de estética da mesma forma que, mesmo antes de  Cristo, os filósofos gregos Sócrates, Platão, Aristóteles, e muito depois Hegel, Kant, Benjamin  e uma lista enorme de estudiosos,  enfrentaram  o tema. O que nos move neste momento é tentar entender como se desenvolve o senso estético nas pessoas, consumidores em geral, tendo em vista que estudos e pesquisas recentes  comprovam haver um regular crescimento da população que, na hora de escolher um objeto, mostra compreensão (muitas vezes exacerbada) do grau de apuro formal do produto. Sempre se soube que o homem desenvolve suas aptidões e sensibilidades por meio da informação, entendendo-se por informação o conjunto de observações que ele consegue analisar, acumular, adaptar e transformar em conhecimento, para delas fazer uso em suas atividades, especialmente aquelas ligadas ao modo de produzir. Dentro deste quadro é natural que as pessoas ligadas ao design, à produção artística, de moda, de mobiliário, de embalagens, de utilidades domésticas em geral, tenham construído, com o  passar dos anos, um juízo estético mais apurado, devido ao exercício diário do desenvolvimento de sensibilidades. O desenvolvimento destas sensibilidades, está diretamente ligado à própria significação da palavra estética que simplificadamente quer dizer faculdade de sentir ou de compreender pelos sentidos. O exercício diário referido, permitiria dizer que aqueles que trabalham naquelas áreas  do conhecimento, desenvolvem capacidades ou faculdades de sentir mais agudas do que os demais mortais. Para tentar melhor elucidar vamos tomar como exemplo a percepção de uma obra de arquitetura vista por um arquiteto. Este observará e tentará “degustar” a obra examinando a composição de volumes, o ritmo repetido dos vãos, o contraste entre  claro e escuro, o equilíbrio entre cheios e vazios, luz e sombra. Até aqui nada de mais, pois teoricamente os arquitetos passam cinco anos na faculdade para construírem um juízo estético (indispensável) também teoricamente, para saber ver, saber ler arquitetura e incorporá-lo na qualidade de suas obras.Entretanto muitos outros observadores, que não arquitetos, perceberão com mais ou menos intensidade muitos destes valores estéticos aqui enunciados. O mesmo exercício pode se fazer com uma produção cinematográfica, muitíssimas vezes também elevada a condição de obra de arte. Para a maioria da população, um filme é apreciado  apenas pelo enredo,  pelos efeitos  especiais, cenas de sexo e violência. Mas muitos são os que percebem conteúdos que vão além destes mais enfáticos observando algumas sutilezas estéticas como o trabalho do iluminador, as tomadas de cena, o figurino dos personagens, os aspectos psicológicos e literários do texto, o fundo musical e a performance dos artistas. O que se constata hoje é que há uma crescente percepção estética das obras, mesmo  por quem não tem atividade diretamente ligada a produção artística. Este efeito com certeza é fruto de uma carga avassaladora de informações obtidas por todos os meios modernos ou antigos de comunicação. Nesta discussão milenar e subjetiva sobre o que é o belo, a partir da década de 70, com o pensador François Lyotard, assistimos o surgimento do movimento pós-moderno, que viria acrescentar  ingredientes capazes de entornar o caldo da narrativa de qualquer teoria sobre estética. A partir de então, por exemplo, a máxima minimalista do  “menos é mais” passou a ser contestada  pelo  “mais não é menos” e não ter regras também passou a ser uma regra. Todas as questões passaram a ser respondidas por um “por que não”?  Desde então Aristóteles, Platão, Sócrates, Kant, Hegel & Cia, não pararam de se remexer no caixão!