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Prof. Morgana Säge

26/03/2020

Profissão? Vestibulando.

“É preciso compreender que o oposto de SUCESSO não é FRACASSO, mas sim TEMPO: aquele que AINDA não conquistou sua vaga só precisa estudar mais, compreender-se melhor e construir a resiliência que só o TEMPO é capaz de dar”  

Assim, nesse entre-lugares, tanto jovem quanto família mergulham no mundo do pré-vestibular e precisam estabelecer e nutrir, desde o início, muito respeito, compreensão e empatia Os filhos devem ter cuidado, paciência e gratidão com seus familiares, lembrando que todos estão ansiosos pelo seu sucesso, contribuindo cada um do seu jeito para isso Os filhos devem ter cuidado, paciência e gratidão com seus familiares, lembrando que todos estão ansiosos pelo seu sucesso, contribuindo cada um do seu jeito para isso

“Passei, prof.!”: a mensagem vem geralmente escrita, mas sinto nela o alívio da conquista, afinal é mais um chamamento (ou o famoso “listão”) do resultado de algum vestibular. Nesses períodos de divulgação de resultados, todos ficam um pouco tensos: afinal, há esperança sempre de se verem nomes conhecidos nessas listas, principalmente quando se espera tanto pelo resultado do SISU, das federais ou das faculdades de medicina. No entanto, como professora e administradora de um pré-vestibular, vivo nesses momentos dois mundos muito diferentes, e meu smarthphone reflete isso: chegam mensagens de alegria e festejo, com corações de euforia, letras maiúsculas e abundantes pontos de exclamação de alunos que cruzaram a linha de chegada que tanto desejavam; mas também chegam aquelas com um curto “oi”, seguido de “não foi dessa vez” e “emojis” de tristeza e pranto.

Viver no mundo do vestibular é enfrentar, em todos os processos seletivos, essa dualidade: comemorar com os aprovados as suas conquistas pintando-os de tinta guache e, ao mesmo tempo, consolar os que AINDA não conseguiram. Nesse sentido, quero chamar a atenção para esse status quo, esse momento da vida, esse “AINDA”: o de “ser vestibulando” (que, na verdade, deveria ser trocado por “estar vestibulando”). Estar nessa fase da vida e poder se entregar 100% ao processo é tanto um privilégio quanto uma cobrança, isso porque a sociedade espera que ou o jovem, recém egresso do Ensino Médio, esteja matriculado em uma universidade, ou trabalhando. Portanto, nesse espaço-tempo, é preciso compreender que o oposto de SUCESSO não é FRACASSO, mas sim TEMPO: aquele que AINDA não conquistou sua vaga só precisa estudar mais, compreender-se melhor, construir a resiliência que só o TEMPO é capaz de dar.

Nesse contexto, percebo a fase do “cursinho” como uma das mais importantes para o iminente adulto, pois permite-lhe deixar para trás a adolescência e perceber que não é a obrigação da presença na escola nem do ponto no trabalho que nos fazem melhores, e sim a nossa dedicação, o nosso envolvimento, o nosso encanto e o nosso desejo. Tudo o que um vestibulando faz é para si mesmo, ou seja, para a construção da sua aprovação. E essa é uma mudança emocional que vem acompanhada de muita pressão, seja para escolher a profissão da sua vida, seja para apropriar-se do seu conhecimento e aprender a estudar (de uma vez por todas).

Para “dar conta” de seus objetivos, esse tipo de estudante precisa aprender rápido que se não se dedicar o suficiente, se não prestar atenção na aula, se não desligar o celular enquanto estuda, se não abdicar de algumas festas, se não cuidar da sua saúde psíquica, se não aprofundar seu conhecimento, se não dormir suficientemente, se não resolver suas dúvidas, se não escrever a redação semanalmente... ele continuará sendo vestibulando. Assim, nesse entre-lugares, tanto jovem quanto família mergulham no mundo do pré-vestibular e precisam estabelecer e nutrir, desde o início, muito respeito, compreensão e empatia. Os pais e responsáveis podem conceder espaços de silêncio, promover o estudo, perguntar curiosidades (aliás, para o estudante, ensinar é uma das melhores formas de aprender); e os filhos devem ter cuidado, paciência e gratidão com seus familiares, lembrando que todos estão ansiosos pelo seu sucesso, contribuindo cada um do seu jeito para isso.

Com equilíbrio, talvez assim a profissão “vestibulando” não seja nunca motivo de vergonha ou de tristeza, mesmo que muitos tenham uma longa jornada até constituírem o corpo discente das universidades e dos cursos que sonharam. Quiçá precisemos pensar que seremos sempre, de alguma forma, vestibulandos, afinal estaremos sempre aprendendo ao longo da vida. Mas que os nossos queridos “vestibulindos” (como gosto de brincar) tenham, nessa fase de suas vidas, uma página da história para ser lembrada com orgulho, carinho e, quem sabe, saudade.