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Rita Costamilan

16/12/2020

Imunoterapia

Revolução no Tratamento do Câncer

"A ciência segue evoluindo, e novas pesquisas mostram que a associação de imunoterápicos entre si e com outros tipos de tratamento, pode melhorar os desfechos clínicos, com taxas de sucesso maior"

O tratamento do câncer com imunoterapia alterou o paradigma da doença na última década, gerando uma revolução extraordinária na história de vida de muitos pacientes. A descoberta desse tratamento que possibilita que células de defesa do organismo reconheçam e ataquem os tumores, foi consagrada em 2018 quando 2 cientistas ganharam o Nobel de Medicina (o americano James Allison e o japonês Tasuku Honjo). Na década de 1990, estes cientistas descobriram proteínas presentes na superfície de células de defesa e nas células tumorais, que possibilitam que os tumores escapem do sistema de defesa do organismo, dessa forma o câncer segue o seu descontrole e crescimento acelerado. Essas proteínas foram chamadas de checkpoints (pontos de controle nas células) e, a partir de então, desenvolveram a inibição desses checkpoints por meio de medicamentos, desenvolvendo a imunoterapia.

        Apesar de ser considerado um tratamento inovador, a história nos remete a situações que hoje sabemos serem explicadas pelo sistema imunológico do organismo no combate ao câncer. A história de São Peregrino, o protetor contra o câncer, é um exemplo. Em 1.300 Peregrino, que morava em sua cidade natal Forli, na Itália, foi acometido por um tumor na perna, sendo a amputação a única possibilidade de tratamento na época. Peregrino passou noites em reza e a doença desapareceu. A explicação da ciência em conjunto com a cura milagrosa foi uma infecção que acometeu a perna doente e o próprio sistema imunológico conseguiu combater a doença. Outra ligação importante na história da imunoterapia, ocorreu em 1891 quando o cirurgião americano William Coley observou regressão completa de um tumor no pescoço de determinado paciente após uma infecção local, sinalizando que o sistema de defesa pode combater tumores. Este cirurgião passou a tratar pacientes com câncer com a chamada de Toxina de Coley (um composto de bactérias) tendo como objetivo o estímulo imune, porém na época as evidências foram pequenas e ele foi desacreditado pela ciência.

        Em 2011 a primeira medicação direcionada ao sistema imune foi lançada nos estados Unidos e no ano seguinte chegou ao Brasil. Este tratamento pioneiro foi o ipilimumabe, destinado ao melanoma metastático, onde pacientes que não apresentavam expectativa longa de vida tiveram possibilidade de mudar a história da doença. O benefício foi um marco e que nos permite nos dias atuais falar em cura do melanoma, mesmo nos estágios avançados. Após esta primeira medicação outros imunoterápicos foram lançados e outras patologias começaram a ser beneficiadas. Porém não são todos os tipos de câncer que respondem a essa classe de medicamento, as melhores respostas ocorrem em tumores chamados de imunogênicos, ou seja, aqueles que produzem substâncias capazes de estimular o sistema imune. O benefício nos pacientes que respondem, além de aumentar sobrevida, é proporcionar qualidade de vida.

        O tratamento da imunoterapia é aplicado endovenoso (na veia) e os efeitos colaterais são diferentes da quimioterapia. No tratamento quimioterápico as células malignas e células saudáveis sofrem efeito do medicamento, já na imunoterapia as células saudáveis não são atingidas pelo tratamento e os eventos colaterais são decorrentes da ativação do próprio sistema imune. Neste tratamento os pacientes não apresentam náuseas e vômitos, queda de cabelo e diminuição dos leucócitos, característicos da quimioterapia.

       A ciência segue evoluindo, e novas pesquisas mostram que a associação de imunoterápicos entre si e com outros tipos de tratamento, pode melhorar os desfechos clínicos, com taxas de sucesso maior. Atualmente existem mais de 2.000 agentes imunológicos contra o câncer sendo estudados.

Apesar de todos os avanços atuais, há muitos desafios a serem enfrentados, como conhecer qual paciente vai responder ao tratamento com os inibidores de checkpoints por meio de biomarcadores, e a viabilização do acesso ao tratamento para todos os pacientes com indicação do uso. Estes novos tratamentos surgem com custos elevadíssimos, já que muitos pacientes podem fazer uso por muitos anos dessas medicações. 

      A história da imunoterapia no câncer pode ser resumida parafraseando as palavras de Winston Churchil em 1942: 

“NOW THIS IS NOT THE END. IT IS NOT EVEN THE BEGINNING OF THE END, BUT IT IS PERHAPS, THE END OF THE BEGINNING” 

Traduzindo livremente: “Agora não é o final, e também não é o início do fim, mas, talvez, seja o fim do início”.