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Thomas Pierosan

09/04/2020

Qual é a Melhor Ideologia?

A política é mais “cinza” do que “preto e branco”

"Inclusive nas redes sociais, estaremos as utilizando bem, se seguirmos formadores de opinião e influenciadores de diferentes ideologias, isso deverá trazer equilíbrio e bons fundamentos para nossas análises e nos estimulará a sermos mais respeitosos com os que pensam diferente"

Publicado na edição Abr/Mai 2020

 

É cada vez mais claro no Brasil a disputa de visões de mundo no cenário político. Seria um grande engano dizer que as discussões políticas se referem apenas a mais um aspecto de nossa vida em sociedade, talvez devessem ser, mas elas representam muito mais do que isso. As ideologias políticas trazem consigo uma concepção sobre o que é o ser humano, qual seria um passado ideal que foi perdido, um estado natural das coisas, e qual seria um mundo perfeito, ou um “mundo melhor” como preferem os mais realistas. Segundo o livro “Dicionário de Conceitos Históricos”, ideologia pode ser definida como um conjunto de crenças e ideias que apresentam certa coerência, que procuram explicar o mundo e indicar como se posicionar nele. Em nosso país, o choque entre diferentes visões tem gerado uma grande polarização, o que não parece ter tido um saldo positivo nas relações humanas.

Talvez alguém possa questionar o título desse texto, pois ideologia não seria uma questão de melhor ou pior, mas sim de diferentes pontos de vista que possuem igual valor. Essa afirmação pode soar verdadeira, mas quando alguém pensa sobre política e o mundo em que vive, provavelmente tende a buscar algo que faça mais sentido quanto ao que seria um mundo melhor, quando essa pessoa é convencida ou se convence de uma posição, isso significa, de certa forma, rejeitar outras posições conflitantes, conforme tem sido nítido na sociedade brasileira. A seguir, apresento pontos de reflexão que creio serem importantes de serem levados em consideração antes de querer estar em um “guarda-chuva” ideológico. É bem provável que você admire pessoas que se posicionam em diferentes ideologias. Se isso é verdade, por que uma ideologia seria exatamente a solução dos problemas e outras não? Se há pessoas admiráveis em diferentes lados do espectro político-ideológico, talvez exista algo anterior às concepções políticas que pode conferir virtude a alguém, portanto, o primeiro ponto a ser levado em consideração é a cautela. Creio que ideologias não fazem, necessariamente, pessoas melhores ou piores.

Há uma constatação entre pesquisadores de que as pessoas têm procurado encontrar ressonância às suas opiniões dentro de bolhas epistêmicas. Espaço onde há consenso e cultivo de opiniões semelhantes, gerando uma mentalidade de certeza quanto ao que se acredita e hostilidade a visões divergentes. A internet tem sido muito utilizada nesse sentido. Acredito ser fundamental para uma boa coesão social não estar nessas bolhas. É natural se aproximar de pessoas que pensem parecido, mas se alguém afirma que não consegue entender como é possível pessoas que não são desse grupo pensarem diferente, penso ser importante pesquisar as ideias por elas defendidas e conviver. É evidente que há motivos, que podem ser bons ou não, para outras crenças. Inclusive nas redes sociais, estaremos as utilizando bem, se seguirmos formadores de opinião e influenciadores de diferentes ideologias, isso deverá trazer equilíbrio e bons fundamentos para nossas análises e nos estimulará a sermos mais respeitosos com os que pensam diferente.

Normalmente as pessoas com convicções políticas bem estabelecidas, acreditam em um mundo melhor quando suas crenças forem postas em prática. A grande pergunta é: faz sentido que, para se chegar a um mundo hipoteticamente melhor (porque nunca vivemos esse “sonho” para saber se ele realmente seria melhor), um mundo onde as pessoas seriam felizes e cordiais, se utilize de métodos agressivos a outras pessoas? Qual sentido de se procurar chegar a um mundo fraterno por meio da violência e da ofensa? Deveria ser coerente, com qualquer ideologia, que o ser humano, seja quem for, seja respeitado e considerado na mais alta estima.

Por fim, é necessário autonomia. É historicamente verificável que o ser humano procura se estabelecer em grupo. As ideologias costumam atrair pessoas, em especial jovens, pela lógica de que farão parte de um grupo que tem, se não todas, grandes respostas para os problemas da humanidade. Os grupos continuarão existindo e são importantes, mas a autonomia e a relação de interdependência são tão importantes quanto. Pergunto: o que faria alguém não ser racista no Brasil no século XVIII? Momento histórico em que esse pensamento era dominante, ou, o que faria alguém não concordar com a repressão aos judeus na Alemanha na década de 1930? Momento em que o antissemitismo era predominante em boa parte da comunidade europeia.

Creio que a resposta para essas questões seja a autonomia. De forma geral, podemos dizer que sempre houve opositores à mentalidade dominante, mas a condição para isso foi a capacidade de pensar e se expressar por conta própria. Ter coragem de ser protagonista do seu pensamento e inclusive estar disposto a viver de forma mais solitária, se necessário, do que viveria se concordasse com qualquer discurso que aparente uma explicação definitiva e que envolva as emoções, é difícil, mas essencial para não repetirmos ou inovarmos maldades.

Entendo que o nosso país será mais equilibrado politicamente, quando seus habitantes não tiverem pressa por se apegar a uma ideologia e, menos ainda, a um político. Parece pouco razoável defender, de forma acalorada, pessoas que nem sequer conhecemos. Ao mesmo tempo, há bons motivos para valorizar e respeitar pessoas que são próximas, ainda mais, se há vínculos parentais, de amizade e confiança.